Capítulo 6 - O Covil dos Demônios

  Estávamos a caminho da Torre, a pedido de Zavala, para uma missão tão importante que não tinha como alguém cumprir sozinho. Isso me dava um certo nervosismo, mas eu não queria que isso transparece de forma alguma. Resolvi conversar sobre outra coisa.
— Então, sobre esse… Rasputin?
— Ah sim, claro. O chamado de Zavala nos distraiu um pouco. Já esperava que perguntasse. A lendária Mente Bélica tomou conta das nossas colônias da Era Dourada com inteligências vigilantes espalhadas por milhares de satélites bélicos e instalações resistentes. Quando o Colapso nos atingiu, as grandes Mentes Bélicas lutaram e morreram. Rasputin caiu com elas. Ou é o que a nossa história acreditava. Mas séculos de histórias de exploradores falaram de uma Mente Bélica sobrevivente e elusiva - um mito confirmado agora por nós. Uma única Mente Bélica ainda vive, reduzida mas intacta.
— Ele lutará ao nosso lado novamente?
— Ainda é cedo para saber, mas caso não seja ao nosso lado, esperamos que não seja contra nós.
Chegamos, e fomos diretamente à sala dos mentores. Fantasma atualizou-os sobre nossa recente missão, e finalizou fofocando sobre meus feitos.
— E Ikora, você tem uma ótima aluna aqui. Poucas palavras serviram para despertar o caminho do Condutor da Tempestade.
— Somado a muita pressão também. — completei.
— Meus parabéns, Guardiã. Isso indica um futuro promissor em sua jornada. Continue assim, e realizará grandes feitos.
— Obrigada, senhora. — fiz uma breve reverência com a cabeça, e ela correspondeu.
— Que bom que chegaram. — A voz de Zavala tomava conta do lugar. —Os outros estão a caminho, sairão em breve.
— Do que se trata exatamente? — questionou Fantasma. Eu tinha a mesma pergunta, mas não me sentia à vontade o suficiente para me intrometer nas conversas.
— Localizamos o Covil da Casa dos Demônios, às sombras de uma nave da antiga colônia, e o Mechanoide que se alimenta da sua força, Sepiks Prime. Os Decaídos continuarão latindo contra as muralhas da nossa Cidade a menos que os eliminemos. Devemos destruir esse deus mecânico… e enviar as suas almas de volta para o inferno.
Um silêncio congelante percorreu a sala com as palavras dele, imponente em seu posto de líder na outra ponta da mesa central.
— Sepiks Prime conta com reforços fanáticos e com suas próprias habilidades táticas, incluindo teletransporte de curta-distância e uma poderosa arma energética. Mire no olho e não encare-o se ele virar-se na sua direção.
Estou entendendo agora a necessidade de um esquadrão.
— Eles chegaram. — disse Ikora, sinalizando para a entrada.
Quando me virei, os vi. Dois Guardiões entrando no espaço prontos para a nova missão. Eles pareciam tão confiantes e arrogantes que era como se andassem em câmera lenta, com seus equipamentos aparentemente melhores do que os meus. Eu seria facilmente carregada nessa tarefa.
— E aí? — cumprimentou o Titã, como se estivesse encarando uma gangue. Era enorme, alto e parecia que sua armadura era pequena para os músculos que tinha. Humano como eu, mas de pele escura e um curto penteado militar, queixo notavelmente quadrado e um sorriso presunçoso que parecia que nunca ia sumir. Sua armadura era branca e vermelha, com o símbolo do Crisol muito bem destacado no peito, o que deixava claro que era um exímio competidor — O que temos de bom pra hoje?
Ele estava pedindo um cardápio ou o quê?
— Fala. — Uma figura distinta surgiu de trás dele. Uma Caçadora Desperta sinistra, usando um capuz que cobria metade do rosto, deixando amostra somente uma boca com lábios grossos e os olhos azuis, incrivelmente iluminados, como os de Zavala. Sua armadura era em tons de cinza, e sua capa era preta, toda rasgada embaixo. Sabe lá o que tinha acontecido com a outra metade. Os Fantasmas deles acompanhavam suas cores, senti que o meu também ficou intimidado. Ele olhou pra mim e tentou se justificar.
— Também posso trocar de roupa. — disse ele, a melhor companhia que eu poderia ter naquele momento.
— Khiva, estes são Ashra e Tyler. Ashra, Tyler, esta é Khiva. — Zavala nos apresentou brevemente. — Vocês foram chamados para eliminar Sepiks Prime no Covil da Casa dos Demônios, o mais rápido possível. Sendo assim, devem ir imediatamente, antes que nossa Cidade corra grave perigo. Não podemos deixar que a Treva se fortaleça.
— Deixa com a gente chefia, isso vai ser fácil. — disse Tyler. Ou ele era muito bom, ou contava com um talento que não tinha. Pro meu bem, espero que seja a primeira opção.
— Rum. — bufou Ashra.
— Essa eu quero ver. — gritou Cayde às risadas. Então Caçadores tinham o costume de surgir do nada? — Não se empolguem muito. Subestimar o inimigo é a pior coisa que podem fazer.
— Diz isso por experiência própria, Cayde? — rebateu Ikora com uma sobrancelha levantada.
— Claro né, Ikora? Se não, não sou eu!
Isso ajudou a quebrar o gelo. Pra ser sincera eu estava roxa de vergonha, por não saber o quão inferior eu poderia ser junto deles. Quando meus olhos cruzaram com os de Ashra, senti que minha Luz estava sendo sugada.
— Fantasma… — pedi socorro.
— Muito bem vamos indo. — ele entendeu, como sempre. — Nos encontramos então no ponto de partida do assalto.
— Fechou. — Tyler sinalizou com um polegar positivo. Estava irritantemente simpático. Será por causa da presença dos mentores?
— Vamos acabar logo com isso, tenho mais o que fazer. — disse a Caçadora, já dando as costas.
Todos se retiraram, eu saí por último. Não queria ser forçada a puxar assunto agora. Talvez, felizmente, isso nem aconteça. Voltei à Praça e Fantasma me recomendou reabastecer munição.
— Recebi dados do correio. Têm algo pra você lá.
— Pra mim? Quem mandou?
— Eu mandei. Você conseguiu algumas coisas dos seus falecidos inimigos no Cosmódromo, mas não deu tempo de coletar, devido a mensagem de Zavala, por isso transmaterializei pra cá, para que não perdesse. Pode ser que seja útil agora.
— A não ser que seja fácil. — olhei pra ele de rabo de olho, e rimos.
— Vai gostar deles. São divergentes, mas essa é a graça de uma equipe. Não vê Ikora e Cayde? No fundo, eles se adoram.
— Classes e Raças diferentes. Não tinha como ser mais divergente que isso.
— Titãs são guerreiros defensores heróicos da Luz, canalizando os poderes da Luz do Viajante para guerrear contra a Treva. Inabaláveis e seguros, eles enfrentam qualquer desafio de frente, servindo à vontade do Viajante como instrumentos vivos de força bruta. Já os Caçadores, bom, eles exploram a vastidão além da Cidade, utilizando a Luz para resgatar os segredos de nossos mundos perdidos. Eles são espiões ousados e assassinos silenciosos, especialistas em facas e armas de precisão. Caçadores traçam o seu próprio caminho e fazem as suas próprias leis. Já os Arcanos são guerreiros estudiosos da Luz que se devotam a entender o Viajante e o seu poder. A mente de um Arcano é um arsenal de segredos letais, um meio-termo entre a divindade e a loucura. No campo de batalha, esses segredos podem despedaçar a própria realidade. Você sentiu um pouco disso lá embaixo.
— Sim.
— Então não se preocupe. Você é tão poderosa quanto eles. Terá um papel fundamental nessa missão, e será reconhecida por isso, tenho certeza.
— Obrigada.
— Não tem de quê. Agora, vamos ao correio?
— Sim, vamos ver o que trouxe pra mim.
Ir ao correio causava uma leve sensação de ansiedade, só que boa. Como se estivesse para ganhar um presente. O que seria?
— Olá Guardiã! — uma robô muito educada nos recepcionou. — Vamos verificar o que temos pra você. Um fuzil automático, apreciado pelos iniciantes, conhecido como Cidadão Funesto III. A tristeza e o horror da Fenda do Crepúsculo levaram alguns dos melhores armeiros da Cidade para elevarem a sua arte. Faça bom uso, Guardiã.
— Obrigada! —Olhei atentamente para minha nova aquisição. Apesar de passar tempos com os Decaídos, ainda estava em bom estado. Seria de grande ajuda agora.
— Gostou?
— Claro! Vamos comprar munição e ir, não quero ficar para trás.
— Assim que se fala.
— O que aconteceu nessa Fenda do Crepúsculo?
— Nomeada a partir da mais grandiosa batalha da Cidade, esta bateria defensiva já segurou a linha de fronte contra as forças combinadas das Casas Decaídas. Muitos Guardiões perderam suas vidas para segurar esta linha quando fomos invadidos durante o curso da invasão. O fato do Crisol agora clamar este terreno é visto como um privilégio, um rito de passagem para novas gerações de Guardiões que lutam onde os bravos caíram, heróis se ergueram e lendas nasceram.
— Deve ser emocionante estar nesse lugar.
— Sim, é carregado de muitas histórias.
Irei conhecer um dia.
Reabastecidos e prontos, partimos para o nosso novo objetivo. Quase me esqueci que teriam outros esperando por nós.
Aterrissamos na Base de Lançamento, um pedaço que era novidade pra mim, mas todo o cenário era o mesmo. Ferrugem, Decaídos e mais ferrugem. Exceto pela Colmeia, que agora estava a luz do dia guerreando contra eles, talvez por território.
— E aí, Khiva? — Tyler. Então sim, ele era assim o tempo todo. — A Fim de exterminar alguns Decaídos?
— Sempre. — respondi com um meio sorriso. Não era meu passatempo preferido, mas já que estamos aqui. Ele estava usando um capacete todo branco. Parecia um tipo de cavaleiro do Crisol.
— Isso aí! Gostei dela. — disse ele, cutucando Ashra com o braço.
Ela olhou pra mim. Não dava pra ver, devido à sua máscara de assassina de aluguel preta com visor vermelho na área dos olhos e uma grade na boca, mas eu podia jurar que ela estava levantando uma sobrancelha e me olhando de cima a baixo.
— Já acabou? — perguntou pra ele.
— Já! — ele respondeu, dando risadinhas.
— Então se mexe, temos que atravessar a briga daqueles ali.
Ela foi a primeira a dar a largada com o Pardal, e sumiu entre a troca de tiros dos Decaídos com a Colmeia. Tyler subiu no dele e olhou rapidamente pra mim.
— Passe o mais rápido que puder, se seu Pardal levar muita bala, vai explodir.
— Pode deixar.
Ele partiu, e eu fui logo atrás. O terreno era irregular, o que me fez cambalear um pouco. Enquanto isso eles serpenteavam na estrada, fazendo parecer fácil. A corrida não foi longa como ir do Cemitério até as Margens. Rapidamente chegamos a entrada para o local, e ali estava Ashra, encostada com um pé na parede, lapidando uma faca.
— Que demora hein? Daqui a pouco não ter mais o que afiar.
— Sua faca é pequena. — disse Tyler, sacando uma arma. — Vamos nessa!
Adentramos a Refinaria. Tyler na frente, Ashra logo atrás, e eu por último, como previsto. Após subir as escadas e atravessar um corredor já podíamos ouvir outro tiroteio.
— Decaídos e Colmeia. Vamos torcer para conseguirmos esquivar do fogo cruzado.
— Opa! A brincadeira já começou! — ao invés de se esquivar, nosso Titã chegou dando uma ombrada em um Rebaixado, enquanto a assassina desliza pelos flancos mais adiante para atirar nos acólitos com um canhão de mão. Como cheguei atrasada, fiquei na retaguarda dando cobertura, eliminando os que sobravam.
— Por aqui! — Tyler já descia as escadas do outro lado. O cenário estava precário, e ao abrir caminho para o covil, encontrávamos inimigos por todos os lados. — Vamos tomar essa Refinaria de volta, haha!
Chegamos a uma nova área, cercada por Decaídos. Nosso objetivo estava depois de uma passagem vigiada por lasers explosivos.
— Como alguém pode ficar tão feliz fazendo esse tipo de coisa? — eu comentei sem querer em voz alta, e não percebi que Ashra estava ao meu lado.
— Fora do Crisol, isso aqui ele faz de olhos fechados. — ela deixou uma curta resposta, e disparou contra Vândalos de tocaia nas extremidades acima de nós, com armas voltaicas bem fortes. Progresso?
O crisoleiro matou o Capitão, e eu todos os inferiores ao redor. Rapidamente limpamos o lugar.
— Ótimo. O caminho da saída está selado. Deixa eu hackear aquele gerador de malha. — estiquei minha mão, e ele se infiltrou no sistema. — É bem complexo. Vou precisar de tempo. São três camadas de malha.
Ashra se posicionou em um dos cantos e recarregou a arma. Tyler e eu fizemos o mesmo.
— Podem vir seus demônios! — o Titã parecia se coçar para arrumar encrenca.
Agora chegava o dobro de inimigos, de todos os lugares. Faltava apenas que brotassem das paredes. Granadas voavam de um lado para outro. Explosões, tiros incessantes. Uma bagunça ensurdecedora. Até que eu estava me saindo bem, e ficava de olho nos outros caso precisassem de ajuda, ou caso eu precisasse, o que era mais provável.
— Cuidado!
Algo esbarrou em mim de repente. Girei em torno de mim mesma e vi a minha direita um Capitão caindo, e um vulto azul que se transformou em Ashra. Ela estava invisível! Nos encaramos por um breve momento, até que ela apontou a arma na minha direção e atirou.
Em um Vândalo que ia me atacar por trás. Ela se retirou em direção a outro grupo e me deixou a pensar. A essa altura, eu estaria morta. E ela acabou de me livrar de sentir aquela terrível sensação. Então isso era fazer parte de um esquadrão.
— Estou quase, mas só pra avisar, tem mais Decaídos e Colmeia a caminho.
Me livrei do transe e procurei um novo posto.
— Ali! — Ashra nos chamou a atenção para o local de onde vários Escravos estavam saindo, dispostos a morrer, em troca de nos matar. A entrada tinha cristais verdes e aquele cheiro horrendo que vi na primeira vez que enfrentei a Colmeia. 
Ficamos então, os três, lado a lado, atirando contra a Comeia. Uma Feiticeira apareceu, mas não foi párea para o lança-foguetes de Tyler. Ele o sacou tão rápido que nem deu tempo de ela dar aquele grito estridente.
Depois viramos e recebemos a rajadas nossos novos visitantes Decaídos, que estavam acompanhados de um líder distinto.
— Naksis, o Barão Demoníaco. — disse Fantasma, deixando claro que não era qualquer Capitão.
— Deixa comigo! — Tyler disparou, jogou uma granada, deu uma joelhada na cara dele e caiu em cima de escopeta. Parecia um animal raivoso, só que sorrindo. Eu e Ashra ficamos olhando. Um tiro em falso, e acertaríamos ele.
— A barreira foi desativada. Podemos ir agora. — Fantasma voltou pra mim e prosseguimos para nossa invasão ao Covil.
Atravessamos todo aquele caos, enfrentando inúmeros inimigos. Dava para entender o nome de Assalto, pois tudo acontecia extremamente rápido. Era atirar, antes mesmo de pensar. Chegamos a uma área de céu aberto, provavelmente a nossa última etapa.
— O Covil está logo adiante, debaixo daquela nave da colônia… Logo do outro lado de todos esses Demônios. Não é a toa que essa área é chamada de A Explosão.
Por falar em explosão, antes mesmo de Fantasma terminar de falar, um Ketch Decaído apareceu, e nos deixou um presente.
— Um Andarilho Demoníaco? Aí sim! — Tyler já estava recarregando todas as armas, radiante.
— Ei. — Ashra me chamava. Ou era Impressão? — Por aqui. Esse louco vai partir pra cima, alguém tem que estar vivo para revivê-lo.
Procuramos uma cobertura, uma parte destruída de um prédio, com vigas amostra.
— Já lidou com um desses? — perguntou ela, se preparando para o abate.
— Não.
— Foque nas pernas, e não se esqueça que são seis. O bicho ficará enfraquecido e aquela anta ali vai atacá-lo no ponto mais fraco, a não ser que morra antes disso.
— Certo.
Ela tinha acabado de superar o número de palavras em uma frase. Talvez, apenas talvez, ela estivesse tão desconfortável quanto eu de dividir uma missão tão arriscada com estranhos. O Fantasma dela apareceu e complementou a explicação.
— Andarilhos Decaídos são plataformas de arma móveis enviadas tanto para propósitos defensivos como ofensivos. Embora seu design biomimético lhes dê uma aparência estranha e quase viva, estas monstruosidades altamente blindadas são puramente robóticas. Seus sistemas de rastreamento avançados podem lidar com múltiplos alvos enquanto suas espingardas frontais e sua gigantesca arma principal varrem as ameaças do campo de batalha. Dispersores de minas proporcionam defesa contra infantaria desmontada e uma fábrica de Sentinelas à bordo produz drones de reparação armados. Eles são ameaças imediatas e fatais que já apagaram a Luz de inúmeros Guardiões. Decaídos não pensam duas vezes antes de enviá-los para proporcionar proteção aos seus espólios e às tripulações de extração. Também são comumente usados como forças de bloqueio para guardar os bens importantes dos Decaídos. Na batalha da Fenda do Crepúsculo, Andarilhos engajaram em um estrondoso duelo de artilharia com as posições armadas da Cidade. Atirar em suas pernas irá sobrecarregá-lo, tornando seu núcleo blindado brevemente vulnerável. Quando ele cambaleia, vocês devem focar todo o poder de fogo disponível nos componentes expostos sob a chapa do pescoço. Algumas armas montadas externamente também podem ser desativadas com fogo preciso.
— Tanto faz, só atira. — retrucou Ashra.
Fantasma sussurrou no meu ouvido. Eu também sabia disso. Sorri com o canto da boca enquanto mirava naquela arma gigante, e ridícula.
O processo se repetiu algumas vezes. Tyler saltitava de um lado pro outro, atirando, socando, rindo e fazendo discursos heróicos. Ao mesmo tempo em que enfrentávamos o Andarilho, tínhamos de dar conta de outros Decaídos que tentavam nos surpreender de todos os lados. Eu e Ashra cobrimos os flancos uma da outra, e era tão automático que não era preciso dizer quase nada. Até que enfim terminamos, e seguimos nosso propósito.
Entramos no tal Covil dos Demônios. Um ar sinistro de uma tribo misteriosa, com caveiras em espetos, bandeiras com símbolos, e pedaços de ossos espalhados pelo chão. Tentei não pensar no que havia acontecido ali, ou no que podia acontecer.
Tyler foi o primeiro a espreitar a saída.
— Ali está ele. Que coisa feia!
— É só uma bola roxa gigante. Vamos acabar logo com isso. — Ashra parecia nunca se impressionar com nada.
— Ele parece estar em algum tipo de transe, não seria melhor limpar a área primeiro? — sugeri. Eles olharam pra mim, surpresos. Havia vários Decaídos em volta, e Sepiks Prime estava imóvel e brilhante, como se estivesse… se alimentando de algo.
— Tem razão. Espertinha você, nem tinha visto esses insetos. Bora varrer? — convidou Tyler, já saindo e anunciando nossa chegada para todo o mundo. Só nos restou segui-lo.
Rebaixados e Vândalos de prontidão pelo seu superior. Nos dividimos para conquistar mais rapidamente o território. Tudo limpo, e Sepiks Prime despertou, rosnando como um estômago com fome, em um som robotizado. Saíram vários espetos dele, e ele ficou parecendo um bicho espinhoso raivoso. Seu olhar passou por todos nós.
— Saquem os foguetes! — ordenou Tyler. Eu e Ashra pegamos os nossos — Mirem no olho! Atirem!
E três rápidos foguetes se dirigiram ao grande Mechanoide Superior, que cambaleou, mas ainda estava forte. Logo depois, Sentinelas vieram como seu reforço. Não duraram muito tempo. Focamos novamente no Prime, com inúmeras rajadas de tiros.
— Essa coisa morre quando? — Ashra evidenciou-se pra ele, bem de frente, levantou uma das mãos acima da cabeça, e invocou uma arma feita de puro fogo, puro poder solar, e num segundo todo seu corpo ficou tomado por ele. Ela abaixou e mirou diretamente nele, e disparou três tiros ensurdecedores, e seu súbito poder cessou, enquanto Sepiks Prime ficava cada vez mais fraco.
De repente, ele se teletransportou e ficou mais perto dela, e pude ver seu grande olho carregando um alto poder de ataque.
— Ashra! — gritei, simplesmente foi a única coisa que puder fazer, além de correr e tentar tirá-la de lá.
Eu corri pra lá, e Tyler pulou de cima da plataforma na nossa frente, entre nós e o nosso poderoso inimigo, esticou brutalmente os braços, e sua Luz formou uma escudo defensor de vácuo que cobriu todo nosso redor, e sugou os tiros de Sepiks Prime, como se fosse nada. Era uma proteção absoluta.
— Vocês estão bem?
— Sim! — respondemos.
— Ótimo! Agora, atirem!
Devolvemos a mesma potência para o Mechanoide. Agora cara a cara, sem busca por coberturas, os três lado a lado. Quando a munição acabava, trocávamos rapidamente para qualquer outra coisa, e os tiros nunca cessavam. O escudo então se fora, nossos recursos estavam esgotados, e Sepiks já carregava seu próximo tiro, que também parecia ser sua última jogada.
— Droga. — Tyler já não estava sorrindo.
Então era eu, ou ele. Inspirada pelo poder de proteção do Vácuo, eu corri de frente pra ele, e postei no ataque. Pulei o mais alto que pude, cerrei o punho e chamei toda a Luz que sentia dentro de mim. E ele veio. O poder sobrenatural da lacuna do universo, percorrendo todo meu corpo já exausto e indo para minha mão e, quando enfim chegou, eu atirei.
E então o grande Mechanoide teve uma espécie de curto-circuito, começou a girar sem parar, cada vez mais rápido, até que explodiu aos ares. O silêncio agora tomava conta do lugar, respiramos fundo e olhamos por um breve momento para o terreno baldio, onde acontecera uma grande batalha, isso até Tyler começar a dançar.
— Aham, aham, aham, aham — cantava ele, se requebrando inteiro. Como havia energia pra isso?
— Bom, eles mandaram a equipe certa para lidar com isso. — disse Fantasma. Ouvir sua voz me lembrou que tudo tinha finalmente acabado.
— Sepiks Prime criou uma grande sombra sobre a nossa Cidade. Com sua destruição os Demônios Decaídos ficaram mais fracos, porém devemos permanecer vigilantes. Os Decaídos são astutos e encontrarão formas de sobreviver, sempre as encontram. — completou Zavala no comunicador.
E sentei no chão mesmo tirei o capacete para respirar melhor, e Ashra encostou em qualquer lugar, e cruzou os braços. Tyler se aproximou tirou o elmo, e eu fiz uma piada pra ele.
— Até que foi fácil.
Acabou-se o silêncio. A gargalhada que ele deu simplesmente me doeu os tímpanos. Olhei para a Caçadora calada do outro lado.
— Até que nos saímos bem como equipe concorda, Ashra?
Ela abaixou o capuz, tirou a máscara e agitou os cabelos loiros brilhantes e repicados. Acenou serenamente com a cabeça e deu um sorriso quase imperceptível.
— Me chamem de Ash.

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